terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Como se cria espírito de grupo? - Um ensaio

O espírito de grupo, a união entre todas as partes de um conjunto de jogadores, constrói-se, no dia-a-dia, mas atenção que há muitas contrariedades.
No Desporto, assim como na vida, há muitas forças contraditórias.
Já lá vamos.

Eis uma breve explicação que encontrei no blog de Tomáz Morais:
http://www.tomazmorais.pt/content/content.asp?idcat=TEMAS&idCatM=temas&idContent=D7EDCB0B-2B71-411B-B89A-DB79ABCFDB04

Espírito de grupo
Espírito de grupo - a equipa como uma unidade
Só consigo entender a equipa como uma unidade, onde o todo é sempre superior à soma das partes e o “eu” aparece inevitavelmente depois do “nós”.
A unidade – chamemos-lhe a partir de agora “espírito de grupo” - constrói-se na diversidade de talentos, de opiniões, de formas de estar e de ver o mundo. O segredo passa pela capacidade de colocar tudo isso ao serviço do colectivo. De que forma? Compreendendo desde logo que existem três pilares em que assenta a construção desse espírito: altruísmo, noção de compromisso e criação de “Values and Standards.” Prefiro baptizar esta trilogia de – “primeira linha”. Daí estendem-se todos os outros elementos fundamentais para a criação de uma espécie de “pulso fechado em que os dedos estão todos muito juntos”. Destacam-se, por exemplo, a autoconfiança, capacidade individual e colectiva, vontade inabalável de vencer, respeito pelo adversário, humildade, e atitude positiva.
Este conjunto de aspectos básicos para a criação de um espírito de grupo efectivo é perfeitamente interiorizado pelos atletas. Percebe-se isso com a convivência, nota-se nos gestos e nas conversas. Quem duvidar, aceite o desafio de analisar os recortes de imprensa dos últimos anos e compreenderá uma realidade pouco surpreendente para quem está perto dos “Lobos”: todos acreditam que é nesse “espírito de grupo” que reside a sua maior força.

Com o Tomaz, o rugby deixou de ser lazer e a selecção passou a ser encarada como uma verdadeira religião.”
Luís Piçarra, antigo capitão da selecção de “quinze”


Ora, todos sabemos que não inúmeros os factores que interagem contra a formação desse espírito de grupo.
Relembremos aqui alguns:

- A vaidade dos jogadores. Há jogadores que se acham tão bons, tão bons... a vaidade é tanta que acham que o seu valor individual é superior a todo o grupo. Este egoísmo, esta falta de sentido do que é um desporto coletivo, é altamente lesivo do espírito de grupo. Se num plantel de 20 tivermos 3 ou 4 miúdos com este perfil, está traçada a receita para o fracasso... A vaidade, o egoísmo, são fatais para uma equipa. O jogador não se esforça porque está amuado, seja porque não gostou do lugar em que o treinador o mandou jogar, seja porque não gostou de saber que o amigo ficou no banco, seja simplesmente porque não está com vontade de jogar e está-se nas tintas para o grupo.
Estes casos têm uma solução muito simples. Sei que a minha ideia pode chocar muitas almas... mas não tenho dúvidas nenhumas sobre isto: Este tipo de jogadores têm de ser avisados a mudar o seu comportamento. São avisados, uma, duas, à terceira são expulsos do grupo! É a única solução.
Eles nunca vão perceber a importância do espírito de grupo, e vão estragar toda a equipa. Por muito talento que tenham, nunca serão fator positivo, vão destruir o grupo...

Papel dos pais. É pena que alguns pais não percebam isso. Ainda alimentam essas vaidades, esses egoísmos... sem o saberem, estão a destruir o futuro dos miúdos! Nunca vão ser nada... Se o atleta quer jogar sozinho, vai para o ténis, o golfe, o badmington... Os desportos coletivos precisam de jogadores altruístas, que pensam mais no colega do lado do que neles próprios. Não saber isto, é não perceber nada de desporto...



- A falta de solidariedade. Ser solidário é saber olhar para os outros e tentar ajudá-los nas suas dificuldades. Um jogador que humilha o colega do lado só porque percebe que é menos habilidoso, é um jogador cruel, é um ser sem valores, sem respeito pelo outro. Este perfil revela alguém que nunca poderá fazer parte de um grupo de sucesso.  Sempre me chocaram relatos de miúdos com essa maldade, que tentavam humilhar os mais fracos. São pessoas mal formadas, sem escrúpulos. Não podem fazer parte de grupos com grande espírito de grupo. Tentam pôr o pé em cima do colega para se evidenciarem...  Não interessam! «Não queres ir tentar outro clube?»

- Falta de humildade. Infelizmente são muitos os casos. Bons jogadores, talentosos, mas cheios de manias... ter a consciência que fazemos parte de um grupo e que quando estamos a jogar bem, estamos a ajudar o grupo, é um bom sentido do papel que cada um desempenha para a união. Gabarolice, jogadores que só querem gabar-se de que marcaram golos, ou que fizeram assistências, que fazem fintinhas bonitas... são jogadores com pouco sentido de equipa. Não são fortalecedores do espírito que se pretende num grupo de sucesso.


Como se cria espírito de grupo?
Primeiro, é preciso ter a coragem de identificar os elementos que minam o grupo. Elementos que dizem mal dos colegas, que não respeitam os colegas. É preciso ter a coragem de chamar esses elementos e dizer-lhes com frontalidade: Não te queremos aqui! Procura outro clube...
Sabemos que não é fácil. Que muitas vezes estamos a falar de miudos com antiguidade no clube... de pais com quem nos habituámos a conviver...  Mas chega a uma altura em que é preciso tomar decisões!


Estirpados os «cancros» do grupo, os elementos que só causam problemas, então agora sim, há condições para começar o trabalho de fortalecimento do grupo.
Um dos argumentos fortes para estimular a união é precisamente a constatação de que o grupo está mais curto, com menos talento. Agora vai ser preciso que todos se esforcem muito mais. Vai ter de haver espírito de entre-ajuda.

A equipa pode até ter menos talento, mas vai ter muito mais garra, muito mais grupo. Todos vão estar a lutar pelo grupo. Cada jogador vai ajudar o colega que falha, não vão existir jogadores amuados, já não haverá jogadores a andarem em campo passeando-se porque estão zangados sabe-se lá com o quê...
Os que estão no banco estarão a torcer pelo sucesso da equipa. Não existirão jogadores a festejar por a sua equipa ter perdido...

É triste que tenhamos de pensar desta forma... Mas não há outra maneira...


NOTA PARA OS PAIS:

Infelizmente, quando deveriam ser os próprios pais a contrariar as tendências individualistas dos miúdos, quando deviam ser os pais a dizerem aos miúdos que têm de trabalhar para o grupo, que têm de respeitar o grupo, que têm de respeitar as decisões da equipa técnica... Infelizmente muitas vezes são os pais a incentivarem os miúdos... o clássico «marca um golo para mim...», mas muito mais grave os paizinhos que vão falar com os treinadores a queixarem-se porque os miúdos ficaram no banco. Como se os seus filhos fossem intocáveis e existissem outros miúdos, de uma categoria inferior, que tinham de ser sempre suplentes e deviam ficar caladinhos no banco... É de uma falta de civismo, de solidariedade, de valores.
Eu já perdi a paciência para esse tipo de conversas... mas lamentávelmente os clubes estão cheios de pais destes! Parece que só vêem os seus filhinhos... não vêem mais nada!
E o que deveriam ver era o grupo, a equipa! Se o seu filho estiver no banco e a equipa jogar bem, deveriam bater palmas, felicitar o grupo!  E não,  ficar na bancada a dizer mal...


CONCLUSÂO: Não digo que seja fácil para uma equipa tecnica lidar com um grupo que está dividido, com pais que só dizem mal e incentivam os miúdos com maus conselhos... Não, não deve ser nada fácil.
Mas também não acho que se deva fingir que não há soluções. Há soluções e são bem simples. Exigem é mão de ferro! Decisões imperativas. Mensagens fortes para o grupo.
Sei que alguns pais não apreciam o estilo, mas eu defendo alguns métodos usados na formação de militares. Como é que se cria espírito de grupo num pelotão?
Pois, todos nós fizemos tropa: Quando um elemento comete um erro, todos pagam pelo erro. De tantos erros cometidos, e  de tantos castigos que infligiu aos colegas do lado, de tanta pressão que sofre da parte do grupo, o elemento incumpridor acaba por perceber que a sua saída é só uma: Trabalhar para o grupo!  Respeitar todo o grupo. Esforçar-se pelo grupo.
Adaptando ao futebol: Um jogador que entra em campo amuado e não se esforça, merece ser interpelado à frente de todo o grupo: «Perdemos por tua causa! Os teus colegas deram o litro e tu estiveste a passear em campo...  Esta semana os treinos vão ser sem bola. Só preparação física. Por tua causa! Vão todos pagar por tua causa!»
 O jogador tem de sentir a pressão de todo o grupo! Ele tem de perceber que as suas decisões individuais, a vaidade, o individualismo, prejudicam todos os outros.


Nos grupos, seja no desporto, seja nas empresas há 4 tipos de pessoas:

1.Há os que querem, mas não conseguem.
2.Há os que não querem, mas conseguem se quiserem.
3.Há os que não querem e não conseguem!
4. Há os que querem e conseguem!


Os primeiros, devem ser ajudados. Muitas vezes são estes elementos que vão gerar grandes sucessos no grupo, porque têm um elevado grau de motivação. Contagiam o grupo! Devemos puxar por eles. Acarinhá-los!

Os segundos são elementos desestabilizadores. Têm talento, mas por razões variadas não estão para isso! Têm de ser motivados. É necessário puxá-los para o grupo. Não conseguindo, é preferível desfazermo-nos deles, porque estes dedicam todas as suas forças a destruir o grupo...

Os terceiros são um caso perdido. Nem valem o esforço. É dizer-lhes adeus...

Os quartos são os pilares do grupo, são os geradores de sucesso, são os elementos que devem ser puxados para a liderança do grupo, têm o talento e têm a motivação.

Todos os grupos têm elementos com estas características.
Cada um deles tem de ser alvo de trabalho específico!

Sem esse trabalho de motivação, jamais um grupo terá sucesso...


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