Que ando a falhar a partilha do "Futebol Total", a minha coluna no Diário de Notícias. É assim esta semana:
A cadeira de sonho e a carreira de sonho
André Villas Boas é um excelente treinador e voltará a ter sucesso. Afirmo-o agora, quando parece mentira, que não gosto de opinar em função dos resultados mais próximos. Villas Boas é competente e não é este insucesso que apaga o que conseguiu no Porto ou no Tottenham do ano passado (a propósito, para quem valoriza resultados, é o treinador do clube com maior percentagem de vitórias no último… século).
Acontece que os bons também falham e este ano falhou, claramente (como falhara, é um facto, embora de outro modo, no Chelsea). Na composição do plantel esteve a origem do mal: 1. não teve força para impedir contratações desnecessárias (Chiriches ou Eriksen), o que azedou a relação com a direcção; 2. a limpeza de balneário (Parker, Assou-Ekoto) foi incompleta e o desprezo por Adebayor (depois recuperado em desespero) ou a subutilização de Defoe (sem um grande Soldado) deterioraram o ambiente num grupo de recém-chegados em adaptação; 3. Não tinha um grande central, e o melhor disponível - Vertonghen – acabou deslocado para a esquerda, que também não havia alternativa ao jovem Rose. Do meio campo para diante eram só cromos repetidos, com 2 lugares apenas para Capoue, Sandro, Paulinho e Dembelé, e mais duas ou três vagas para Lennon, Townsend, Lamela, Eriksen, Sigurdsson, Holtby e Chadli.
Há todavia uma terceira dimensão, intrigante, neste processo, que é o modo como o Portugal desportivo – os media mas também os adeptos, nas redes sociais – quase festejou o despedimento, sem sintoma de carinho por um português de méritos provados. O mesmo país que se mobiliza pela bola de ouro de Ronaldo e defende Mourinho nos momentos mais controversos, não mexe uma palha por Villas Boas. E não será só pelas clássicas e muito nacionais inveja e clubite tão portuguesas mas também porque Villas Boas não cuidou dessa proximidade, afastou-se do espaço mediático nacional, nunca deu uma entrevista de jeito para o país onde nasceu, sem ser arrogante no trato foi-o na atitude. Mourinho e Ronaldo souberam sempre mobilizar o país em seu apoio, Villas Boas descuidou esse factor. Talvez por isso tantos lhe vaticinam agora um regresso ao Porto, que afinal só com os dragões manteve laços. Não o recomendaria, porque dificilmente iria repetir o que já fez e isso só confirmaria uma (para mim injusta) ideia de logro, ou seja, de que não há carreira de sonho mas apenas cadeira de sonho.
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Onze da semana: Neto (Fiorentina); Zabaleta (Man City), Phil Jones (Man United), Ansotegui (R.Sociedad), Kolasinac (Schalke 04); Henderson (Liverpool), Dzemaili (Nápoles), Hahn (Augsburgo); Tevez (Juventus), Suarez (Liverpool), Diego Costa (At. Madrid).
Destaque: Fernandinho (Man City)- Apetece perguntar como pôde ter estado oito anos na Ucrânia. Médio muito ofensivo quando explodiu no Atl. Paranaense, europeizou-se tacticamente com Lucescu, e é hoje um admirável box-to-box que Pelegrini transformou no par ideal para Yaya Touré. Com Yaya, ele faz iô-iô, que se um avança o outro recua. Falam-me em duplo-pivô, respondo com médios centro que a complementaridade não tem de ser um jogo de contrastes, água e azeite. Touré e Fernandinho misturam-se e da mistura resulta o melhor. Com o Arsenal encheu o campo, perfeito nas rotinas actuais, de equilíbrio, e a ir à memória buscar o melhor técnica para dois golos de luxo. Scolari pode prescindir dele, porque tem Pauliho, Ramires e Luiz Gustavo, mas não devia. Com a bola nos pés é o melhor deles todos.
Descoberta: Brayan Perea (Lazio): Pode estar aqui um dos grandes avançados do mundo, dentro de um, dois anos. Na primeira época em Itália, na Lazio que o descobriu cedo, já acumula muitos minutos. Falta-lhe acumular golos mas acredito que começará em breve. Tem só 20 anos, é atlético e poderoso, e com qualidades atípicas para a altura que tem (1,90m). Aliás, enquanto lhe falta afinar a definição - seja a finalizar mesmo ou a concluir arrancadas e dribles - entusiasma particularmente quando recua, seja na procura da faixa para acelerações longas, ou quando recebe de costas e protege a bola para jogar com os médios. O filão colombiano entrega mais esta pérola ao futebol europeu. Chamam-lhe El Coco.
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