quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Tudo sobre Mourinho (o livro)


(hoje na edição de Dinheiro Vivo, Diário de Notícias)



O Código Mourinho explica o fenómeno de comunicação e sucesso que constitui o treinador português. Leia em exclusivo no Dinheiro Vivo algumas das passagens mais marcantes deste livro já à venda. 

José Mário dos Santos Mourinho Félix nasceu a 26 de Janeiro de 1963 em Setúbal (Portugal). Fala português, inglês, francês, italiano e espanhol. Por todos os lugares por onde passa sacrifica -se em busca dos melhores resultados e do máximo entendimento com os seus jogadores. José Mourinho, que se autoproclamou um «homem especial – The Special One», pode parecer à primeira vista uma pessoa mal-educada, brusca, egocêntrica, ambiciosa… mas todos quantos o conhecem bem dizem que é carinhoso, generoso, amável, sorridente…

Uma pessoa honrada e solidária, com valores fortes: em conclusão, uma pessoa muito diferente do homem que se apresenta diante dos meios de comunicação social. Michael Robinson, ex -futebolista e comentador do Canal +, conviveu com ele durante um mês na Jugoslávia. E descreve -o da seguinte maneira: «O tempo que estive com ele foi muito gratificante; fiquei com a impressão de um homem caloroso, afectivo e esplêndido. À medida que foi evoluindo, essas características tocaram a sua personalidade e agora ele não só é um grande treinador como também possui muitas qualidades como ser humano. Veste uma personagem diante dos meios de comunicação social, mas é um craque da comunicação, generoso com os futebolistas; fá-los entender que são eles quem ganha e só ele é que perde, por isso eles adoram -no. Transmite -lhes amor e respeito; é mais brando do que duro. As suas guerras dialécticas são momentâneas. São pequenos instantes numa vida que inspira um especial carinho.»

Numa das entrevistas que concedeu, Mourinho diz que o que mais o aborrece são «as mentiras. Fora do futebol sou um homem totalmente distinto. No futebol arrisco tudo, sou ousado na forma de liderar, de comunicar, de gerir a minha relação com a imprensa…, arriscarei muito com a equipa, logo terão ocasião de ver… Por outro lado, na minha vida pessoal, sou exactamente o contrário: não arrisco nada, sou discreto, não faço investimentos financeiros. O risco com os meus euros é zero. Sou um homem reservado, não me agrada nada a vida social. E a mentira é do que menos gosto. Disseram que nas minhas férias no Quénia tinha contratado um bruxo! As coisas que se inventam!» E acrescenta opiniões como estas:  «Aspiro a mudar a filosofia futebolística, não existem treinadores com as mesmas ideias.» 
«Eu não faço trabalho físico. Defendo a globalização do trabalho. Não sei onde começa o físico e acaba o psicológico e o táctico.»
«Algo que para mim está muito claro é que para assumir o controlo do jogo é necessário ter a bola. Desfrutar dela. A minha principal noção de táctica passa pela posse da bola. Quero uma elevada circulação da bola e, para que isso aconteça, os jogadores precisam saber que têm um companheiro em determinada posição.»
«As minhas equipas não têm medo de perder, e uma equipa que não receia perder ganhará mais jogos e jogará melhor do que uma que tema.»

José Mourinho possui enormes aptidões para o manejo e a organização de uma equipa de futebol, pois desde muito jovem já elaborava relatórios e boletins para as equipas que o pai dirigia. Como explica o filósofo José António Marina: «O talento é a inteligência activa e posta a trabalhar, incentivadora e empreendedora. É a inteligência resoluta e audaz, isto é, que resolve problemas e avança com resolução.»
Neste sentido Mourinho tem, graças ao seu esforço, um grande talento. Em 1992 Mourinho deu o primeiro passo na sua carreira profissional como futuro treinador pela mão de Bobby Robson no Sporting Clube de Portugal, de Lisboa; no início era tradutor, mas acabou por superar o segundo técnico. Robson apercebeu -se do seu talento e ficava frequentemente surpreendido com os conselhos do jovem Mourinho, a tal ponto que foi confiando nele e o transformou no seu braço direito.
Esteve com Robson três temporadas no Futebol Clube do Porto (1993 -1994, 1994-1995 e 1995 -1996) e uma no FC Barcelona (1996 -1997). Aquando da sua chegada a Barcelona, o treinador Louis van Gaal chamou-o para o encarregar da elaboração dos relatórios das equipas adversárias.
«Uma coisa é ter um mentor, e outra é querer imitá-lo. Com um mentor temos uma base para melhorar, mas se o imitarmos nunca seremos melhores do que o modelo. Precisamos sempre manter a identidade própria.» José Mourinho, sobre Van Gaal
As suas primeiras oportunidades como treinador principal não foram muito bem -sucedidas: nove meses no Benfica; depois no União de Leiria, que acabou em quarto lugar no campeonato; outra vez o Benfica e por fim, em Janeiro de 2002, o Futebol Clube do Porto, onde conseguiu os seus primeiros triunfos. Como já comentámos, na sua primeira temporada completa no Porto, a de 2002 -2003, conseguiu um tripleto: Liga, Taça e Taça da UEFA. Na segunda, a de 2003 -2004, venceu a Liga portuguesa e nada mais nada menos do que a Champions League.
Um homem especial?
Todos conhecemos a história. Mourinho mudou-se para Inglaterra para treinar o Chelsea em Junho de 2004, por 4,2 milhões de euros. Na sua primeira conferência de imprensa comentou: «Por favor, não me chamem arrogante, mas sou campeão da Europa e penso que sou especial.» E daí surgiu, para a imprensa britânica, a alcunha The Special One. O que começou por ser uma troça do sector crítico dos meios de comunicação ingleses, acabou por se transformar num sinal de identidade. Nos melhores momentos de Mourinho no Chelsea, os adeptos em Stamford Bridge faziam a onda e gritavam em coro o nome do seu querido treinador. 
«José Mourinho, José Mourinho, come back José Mourinho. Stand up, stand up, for the Special One.» (José Mourinho, José Mourinho, volta José Mourinho. Levantem -se, levantem -se em homenagem ao especial.) 29 de Setembro de 2009

O James Bond do futebol 
Já comentámos antes a campanha publicitária de José Mourinho para a American Express, a entidade emissora de cartões de crédito. Durante a sua estada como treinador do Chelsea também foi patrocinado pela Samsung, a empresa coreana de electrónica de consumo. O anúncio era como se descreve a seguir: Mourinho está a gravar o jogo de um jovem futebolista com o seu telemóvel D600 quando é chamado para assistir a uma reunião no estádio. Sobe aos telhados, salta de casa em casa enquanto o perseguem e chega à sala de reuniões impecavelmente vestido, sem se despentear. «Não é assim tão difícil de imaginar», diz no fi m do anúncio. Noutra campanha, desta vez da entidade financeira portuguesa BPI, acaba por dizer com total segurança: «Se não fosse para ganhar, eu não estaria aqui.»


Uma promessa de coragem
Um recorde é uma promessa de coragem, e José Mourinho sabe muito bem disso. Existe um modelo nas apresentações em cada uma das equipas (no Porto, no Chelsea, no Inter, no Real Madrid), na sua primeira conferência de imprensa. Oito aspectos em comum:
– Fala na língua dos meios de comunicação e dos adeptos: português, inglês, italiano, espanhol.
– Expressa a sua autoconfiança e a sua condição de pessoa especial.
– Demonstra esperança e vontade pelo novo desafio.
– Fala de retoques em relação à equipa que lhe entregam, apesar de todo o falatório dos meios de comunicação social sobre as contratações.
– Pensa e trabalha em termos de equipa, e não de indivíduos.
– Reconhece a cultura do clube.
– Agradece ao presidente que o tenha contratado.
– Fala da sua anterior equipa como sendo passado e deseja -lhe o melhor, todas as felicidades e toda a sorte, «excepto na Champions».

E também uma evolução. O José Mourinho que chega ao Futebol Clube do Porto em 2002 tem de fazer uma promessa colossal (e cumpri-la). O Mourinho que chega ao Real Madrid em 2010 não precisa fazer promessas; os seus feitos e êxitos precedem-no.  «Se falarmos de 2010, esse é o melhor ano da minha carreira. De 1 a 10 daria a mim mesmo uma nota de 11, porque ganhei todas as competições que podia ganhar com o Inter e com o Madrid, neste momento, temos opção de ganhar todos os títulos. É uma temporada perfeita.» José Mourinho, 18 de Dezembro de 2010 
«As pessoas que estão com Mourinho estão-no a 100%, e as que estão contra ele, estão-no a 200%.» Maniche, ex -jogador que esteve três anos com Mourinho no Futebol Clube do Porto


As conferências de imprensa

Os êxitos de Mourinho nunca são isentos de polémica; dotado de talento e com um toque de arrogância, as suas declarações já causaram mais de um escândalo. Apesar disso, Mourinho é um vencedor dentro e fora do campo. Fora do terreno de jogo absorve a pressão de forma única, não se deixando intimidar por nada nem por ninguém, assinalando a sua identidade a todo o instante e projectando a imagem que deseja que os jornalistas vejam tanto dele como da equipa em cada momento.
O Código Mourinho explica o fenómeno de comunicação e sucesso que constitui o treinador português. Leia em exclusivo no Dinheiro Vivo algumas das passagens mais marcantes deste livro já à venda. 
Apaixonado pela táctica e pela ordem defensiva, adepto da polémica, filosófico e vencedor. Um mago do futebol, que vá para onde for e esteja onde estiver consegue obter títulos acompanhados de declarações, actuações e polémicas que nem toda a gente entende, mas que demonstram uma inteligência que não deixa ninguém indiferente.
«Falo quando quero, não quando manda a imprensa.» José Mourinho

Mourinho costuma iniciar as conferências de imprensa tranquilo e com pouca vontade de falar, mas à medida que os minutos vão passando vai «aquecendo»; é algo que tem que ver com o seu temperamento, é impulsivo. Às vezes pensamos que se engana e como é evidente é possível que em algum momento se arrependa. As suas respostas são breves, às vezes monossilábicas.
Não há dúvida de que Mourinho utiliza as suas relações com os meios de comunicação social e, mais concretamente as conferências de imprensa, como uma forma de interagir com os adeptos. Sabe incitar, induzir. Poderia dizer -se que a hostilidade que às vezes manifesta, longe de ser uma mostra de ressentimento, é antes um hábito para desestabilizar os seus adversários. Sabe aproveitar a comunicação e os meios de comunicação social para dizer o que é preciso em cada instante.
Mourinho é capaz de criar um bunker, isolar a equipa de todos os comentários ou aspectos que possam interferir no seu rendimento e conseguir que todos lutem como um todo, com vista à consecução dos objectivos. E o mais importante é que é capaz de fazê-lo em todas as equipas, apesar de não dispor dos mesmos recursos. É isso que faz dele um treinador eficiente, que sabe adaptar -se ao que possui e tirar o máximo partido disso.
Mourinho é um bom comunicador, sabe usar os meios de comunicação social, às vezes com uma atitude cortante e provocadora. O técnico descarrega com a imprensa a tensão anterior ao jogo. Mourinho afirmou, por exemplo: «Quantos títulos preciso ter no meu currículo para não julgar a minha carreira num único jogo?» O seu esforço comunicativo aliado ao seu trabalho no campo criou um Real Madrid forte, agressivo e admirado pelos seus adeptos. Os êxitos alcançados no terreno de jogo em muitas ocasiões são acompanhados de polémica por causa das declarações de Mourinho nas conferências de imprensa; deste modo arrasta a contenda vivida no campo para as conferências de imprensa, que se transformam assim num prolongamento dos noventa minutos de jogo. Os seus adversários não são a equipa contrária, mas sim, por vezes, os próprios jornalistas.

O perfil psicológico de Mourinho
De acordo com Christian Gistain, psicólogo desportivo da Universidade de Valência e autor do blogue Futbol by Suite 101: «Se prestarmos atenção às conferências de imprensa, podemos ver um treinador que normalmente apresenta os ombros encolhidos e os braços cruzados em cima da mesa. Isto reflecte uma clara atitude de não querer mostrar o seu lado mais pessoal, deduzindo-se com isso que está a mostrar uma conduta oposta ao seu verdadeiro estilo. Pretende manifestar uma imagem de vítima, de ser indefeso e abatido. 
No seu rosto também podemos apreciar gestos infantis nos seus lábios e sobrolho, à semelhança de uma criança quando é contrariada ou castigada.» E acrescenta: «Esta estratégia parece desmoronar quando se dá ares de campeão, de pessoa especial e quando comemora as vitórias com o dedo indicador erguido. Tal gesto indica ânsia de protagonismo, ser individualista e notório diante de tudo, deixando claro que foi ele quem ganhou.»
«Fora do futebol, segundo dizem, é um tipo totalmente distinto: carinhoso, amável, divertido, bom companheiro, tímido, reservado e caseiro. No seio do ambiente desportivo dá -se a transformação: arrogante, polémico, impertinente, distante, implicante, provocador.» Eleonora Giovio, Com Mourinho Ninguém Pode

Parece que Mourinho aprendeu com Louis van Gaal este «modelo dual», talvez bipolar, quando era o treinador-adjunto do holandês no Barcelona. «Em público, Van Gaal sabia ser um estúpido distante. Em privado era muito próximo. Um sentimental. Como se tivesse duas vidas. Mourinho aprendeu a salvaguardar a distância com ele e dele. Convenceu -se de que era necessário erguer um muro entre si e o público porque essa era a maneira de demonstrar que era o chefe», comentou Miguel Rico, jornalista de Mundo Deportivo. «E essa distância entre o público e o privado, longe de encurtar -se, foi aumentando cada vez mais», acrescenta Miguel Rico.
Essa distância foi -se tornando cada vez maior com o passar dos anos. José Mourinho é uma pessoa de família, de profundas convicções religiosas, que se manifesta publicamente de uma maneira muito diferente da sua personalidade mais íntima. Maquiavélico e ambicioso em público, com pouca tolerância à frustração como «calcanhar de Aquiles».
Um ou outro meio de comunicação já manifestou que «Mourinho contagia a sua histeria», porque desde que se tornou o treinador do Real Madrid foi expulso por três vezes (na Liga, na Taça e na Champions), vinte e três jogadores da equipa branca viram o cartão vermelho (sete em duelos contra o FC Barcelona) e já por quatro vezes mostraram a porta de saída ao seu assistente Rui Faria. Desde que Mourinho chegou ao banco dos brancos, Pepe foi expulso em quatro jogos e Sergio Ramos, em outros quatro.
«A grandeza do Madrid está no jogo. A histeria não é mais do que o arroubo da frustração do seu técnico. Continuando por esse caminho, o futuro do Real Madrid está em perigo» (José Sámano, El País).
A resposta de Florentino Pérez, presidente do Real Madrid, após os incidentes de El Madrigal (Villareal 1 – Real Madrid, 1), no dia 21 de Março de 2012, foi: «O Madrid nunca se rende.»

O silêncio da intimidade

As pessoas de êxito costumam gostar de preservar a sua intimidade, que não se conheça a sua vida pessoal. Mourinho é sem dúvida uma delas: não lhe agrada nada que interfi ram na sua vida pessoal, não precisa disso, e por conseguinte separa com uma fronteira nítida a personagem pública da pessoa privada. Segundo o dicionário, a intimidade é o aspecto mais pessoal, reservado e privado de um indivíduo; o direito da pessoa a ter uma vida privada.
A dedicação de José Mourinho às suas equipas (nesta última etapa, ao Real Madrid) é plena; no entanto, quando termina o seu dia é capaz de deixar de lado toda a pressão que implica ser treinador do Real Madrid para se dedicar única e exclusivamente à sua família. Esta habilidade, que para muitos passa despercebida, permite –lhe dispor de uma estabilidade emocional que se reflecte depois nos seus resultados profissionais.
Tem consciência de que sem o apoio da sua família, os seus problemas seriam transpostos para o plano pessoal e afectariam a sua função como treinador; por isso, aproveita todo e qualquer momento para estar com a sua família, chegando inclusive a levar consigo o filho para os treinos a fim de poder desfrutar por mais tempo da sua companhia. 
Para Mourinho isto não constitui uma distracção das suas tarefas, muito pelo contrário: permite -lhe dispor de uma maior frescura mental para enfrentar a orientação do treino. O seu filho, a sua filha e a sua mulher Matilde (alcunhada carinhosamente de Tami, com quem está casado há mais de vinte anos) têm sido fundamentais na consecução dos seus êxitos; por isso mostra uma certa resistência a que o seu posto como treinador de uma das melhores equipas do mundo possa afectá-los de alguma maneira. É por esta razão que Mourinho nunca alude à sua família e guarda um profundo secretismo acerca de tudo o que rodeia a sua vida pessoal.

«Da minha vida privada não tenho de dar explicações a ninguém.» José Mourinho

Para Mourinho a sua família é realmente o mais importante e, embora muitas pessoas pensem que não lhe falta nada, o técnico português sente falta de passar mais tempo com eles. Sabe que o seu cargo de treinador de elite lhe exige muito tempo, que o rouba à família, e essa é uma das suas maiores preocupações, como se depreende de algumas das suas declarações:

«O futebol tirou-me mais do que me deu. O futebol deu -me a alegria de viver cada dia. Tirou -me coisas mais importantes do que tudo o resto. Estas são as coisas básicas da vida. Não posso comer um gelado sossegado com a minha mulher e os meus filhos. Nem ir de férias. Coisas básicas da vida que não podemos fazer. Tiram-nos a privacidade, e quem perde são os meus, mais do que eu. A minha vida são os que estão em casa.»
«Trabalho muitas horas, e quando chego a casa gosto de estar com a minha família. Não posso ser tão egoísta a ponto de exigir o meu próprio espaço. Tenho de fazer as coisas que eles gostam de fazer, ver o filme de que a minha mulher gosta, ir ao cinema e ver o filme de que gostam os meus filhos.»
À semelhança do que acontece com as suas equipas, José Mourinho constrói para a sua família uma espécie de bunker a fim de isolá-los dos meios de comunicação social, de todas as pressões que possam interferir na sua vida quotidiana e provocar desajustes nessa união familiar. «No futebol arrisco tudo. Na vida pessoal, não», declarou Mourinho.
Não gosta das grandes cidades (apenas se deslocou três vezes até ao centro de Madrid desde que treina o Real) e prefere estar com os seus na periferia. Um talento-estrela, uma figura pública, uma pessoa zelosa da sua intimidade. Se existe alguma coisa que incomoda Mourinho é essa perda de privacidade que o impede de realizar actividades quotidianas com a mulher e os filhos.  «Perdi totalmente a minha privacidade. Todos me conhecem, todos falam de mim, não posso andar na rua com tranquilidade, não posso passear com os meus filhos, com a minha mulher, com a minha família, não posso viajar tranquilamente.»

Mourinho reconhece que na intimidade é uma pessoa diferente daquela que se vê através dos meios de comunicação social, uma pessoa que só a família e os amigos conhecem de verdade. Como líder, isso concede -lhe uma certa vantagem, porque o facto de não mostrar os seus verdadeiros interesses, motivações e pontos fracos garante que ninguém possa utilizá-los contra si para obter algum tipo de benefício.
Uma das chaves da liderança é dispor de muitas informações sobre os adversários e, por outro lado, não proporcionar informações pessoais aos outros, algo que Mourinho faz na perfeição. José Mourinho declarou: «Durante o jogo estou de pé noventa minutos, falo com os meus jogadores, com os adversários, com os árbitros… Estou a jogar o meu desafio, não me ponho a fazer teatro, estou a trabalhar. As conferências de imprensa são locais de trabalho. As pessoas conhecem-me a trabalhar. Por isso, ninguém conhece o Mourinho. Conhecem-no, sim, a família e os amigos.»
Para obter os resultados esperados, para atingir os objectivos que definiu, Mourinho está ciente de que no seu papel de treinador, de figura mediática, ultrapassa em muitas ocasiões os limites. Quando se vê a si mesmo na televisão reconhece os seus erros; por isso, nem ele nem a sua família gostam desse personagem a que chamamos The Special One: «A minha mulher não gosta de futebol, mas sei que não gosta disso e é muito crítica. Ela não está apaixonada pelo The Special One, e eu também não gosto. Além disso, a ela não lhe agrada a vida dos seus filhos nem a sua própria vida pelo que eu represento em termos sociais.»
A exposição mediática pode fazer -nos duvidar de nós mesmos e fazer-nos sentir estranhos, porque não pode ser deturpada, mudada, transformada de forma a cumprir os objectivos de outros que não correspondem aos de cada um. É esse o silêncio da intimidade e o preço da fama. Parece que José Mourinho conta com muitos e bons amigos que fazem parte dessa tão desejada intimidade.
José Mourinho não costuma falar, por tudo o que foi dito, do seu círculo mais íntimo. Uma das poucas excepções a essa regra foi no avião durante o voo de regresso a Madrid depois da gala de entrega da bola de ouro da FIFA, onde o treinador português recebeu o título de melhor técnico de 2010 junto de Cristiano Ronaldo e de Iker Casillas, que fizeram parte do melhor onze do ano. Casillas também recebeu o prémio de melhor guarda-redes do ano. Na intimidade proferiu declarações a que não estamos acostumados, num tom bastante amistoso.
Mourinho mostra o carinho que sente pelos seus jogadores, considera que sem eles não é ninguém, e acrescenta que tanto Cristiano Ronaldo como Iker Casillas merecem a bola de ouro tanto como quem a ganhou, o argentino do Barcelona Leo Messi. De resto, Mourinho considera que o seu compatriota deveria ganhar três ou quatro vezes este troféu e que é uma pena que Casillas não tenha estado entre os três melhores jogadores do ano só pelo simples facto de ser guarda -redes.

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